Segundo Domingos P. F. Almeida, da Seção de Ciências Agrárias da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, (em seu artigo - De oleribus. Argumentos a favor da utilização do termo “olericultura” in: dalmeida.com/hortnet/apontamentos/olericultura.pdf) a horticultura, no significado internacional do termo, engloba as fitotecnias em que as culturas são conduzidas com grande intensidade de atuação fitotécnica, justificada pelo elevado valor acrescentado dos seus produtos. A discussão sobre os termos adequados para designar as disciplinas hortícolas não é nova, nem se esgota neste ensaio, onde ele procura mostrar que a utilização do termo “olericultura”
1) é etimologicamente adequada;
2) contribui para a uniformização e clarificação da terminologia;
3) possui justificação histórico-linguística
O termo Horticultura é utilizado pela Associação Portuguesa de Horticultura em sentido lato, em consonância com a sua utilização nos círculos técnico-científicos internacionais, para designar a cultura de hortaliças, de fruteiras (incluindo a vinha), de plantas aromáticas e medicinais e de todas as plantas as plantas ornamentais. Assim sendo, a palavra tem necessariamente de ser adjetivada para se referir apenas às hortaliças
Etimologicamente a palavra “olericultura” significa cultura de hortaliças.
Mas será “olericultura” um termo apropriado para designar a disciplina que tem por objeto as hortaliças?
Olericultura é o termo atualmente utilizado pela Associação Portuguesa de Horticultura para designar uma vice-presidência, é nome de disciplina em diversas instituições portuguesas de ensino superior, dá nome à Sociedade técnico-científica brasileira que se ocupa do mesmo objeto. Universidades norte-americanas têm recentemente adoptado o termo olericulture para designar disciplinas onde se estudam as hortaliças, contra a tradição anglo-saxónica do simples vegetables.
Mas o termo olericultura e palavras com a mesma raiz estão disponíveis na língua portuguesa. O Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, editado no Brasil, onde a palavra olericultura é largamente utilizada nos círculos técnico-científicos, define olericultura como “cultura de hortaliças e legumes”.
A palavra “horticultura” existe no nosso idioma desde 1837 (Machado, 1967)1 .
Por que insistir agora em substituir um termo velho de quase 2 séculos por um nome que não é reconhecido pelo grande público e que grande parte daqueles que trabalham com as culturas ditas hortícolas tem dificuldade em aceitar?
Porque a utilização do termo Olericultura para designar a disciplina que se ocupa das hortaliças permite libertar o termo Horticultura para assumir em plenitude o seu conceito mais vasto, em consonância com o significado internacional.
Mas, terá esta designação legitimidade histórica?
Um argumento medieval
É interessante recuarmos no tempo e analisarmos o livro Etymologiae2 , escrito por Santo Isidoro de Sevilha no início do séc. VII.
O capítulo 17 (Liber XVII) desta obra, intitulado De rebus rusticis (acerca da agricultura) aborda a origem das palavras relacionadas com a agricultura e está subdividido nos seguintes títulos:
1. Sobre os escritores de temas agrícolas (De auctoribus rerum rusticarum)
2. Sobre o cultivo dos campos (De cultura agrorum)
3. Sobre os cereais (De frumentis)
4. Sobre as leguminosas (De leguminibus)
5. Sobre as videiras (De vitibus)
6. Sobre as árvores (De arboribus)
7. Sobre os nomes próprios das árvores (De propriis nominibus arborum)
8. Sobre as árvores aromáticas (De aromaticis arboribus)
9. Sobre as ervas aromáticas ou comuns (De herbis aromaticis sive communibus)
10. Sobre as hortaliças (De oleribus)
11. Sobre as hortaliças com cheiro (De odoratis oleribus)
OLERICULTURA X HORTICULTURA
É evidente, pela organização que S. Isidoro deu ao capítulo, que a forma como hoje agrupamos as culturas foi, no essencial, proposta pelos agrónomos romanos e mantinha-se no início da Idade Média. A leitura do Liber XVII é interessantíssima, mas a sua análise ficará fora do âmbito deste ensaio.
Almeida deteve-se apenas nalguns pontos que tratam das hortaliças.
Em De oleribus, S. Isidoro explica a etimologia de culturas como a pastinaca, o nabo, a mostarda, a alface, a cebola, o alho, o alho-francês, entre outras. Curiosamente, é aqui que são incluídos os fungos (fungi) e a trufa (tuber).
É também em De oleribus que o autor define horto: “O horto (hortus) recebe este nome porque nele sempre nasce algo. Enquanto em qualquer outra terra somente se dá uma produção por ano, o horto nunca permanece sem fruto”
Já o aipo, a salsa, o coentro, o funcho, a hortelã e a salva são abordadas no ponto dedicado às hortaliças com cheiro (De odoratis oleribus), enquanto o açafrão, o tomilho, o orégão, a artemísia, e o absinto, são discutidos conjuntamente com o gladíolo, a rosa, a hera, e a urtiga, no ponto intitulado “Ervas Aromáticas ou Comuns” (De herbis aromaticis sive communibus). Portanto temos base para o uso de Olerícolas.
Horticultura é a ciência, a tecnologia e as empresas envolvidas na produção de vegetais para consumo. Horticultura é a arte de cultivar plantas que crescem em hortos e pomares. O termo vem etimologicamente a partir das palavras latinas Hortus ( jardim , pomar , planta ) e cultura ( "cultura"), que significa "o cultivo em pomares ou jardins."
De acordo com a International Society for Horticultural Science ISHS é necessário saber o que as culturas são adequadamente atribuídas a indústria hortícola. São geralmente aceito por pesquisadores e educadores em ciência hortícolas que culturas hortícolas incluem:
-árvore, arbusto e frutos das videiras perenes;
-perenes arbusto e da árvore de casca rija;
-olerícolas (raízes, tubérculos, rebentos, caules, folhas, frutos e flores de plantas comestíveis e principalmente anual);
-folhagem aromática e medicinal, sementes e raízes (de plantas anuais ou perenes);
-flores de corte, plantas ornamentais em vasos e plantas ornamentais em potes (envolvendo plantas, tanto anuais ou perenes); e
-árvores, arbustos, relva e gramíneas ornamentais propagadas e produzidas em -viveiros para uso em paisagismo ou para o estabelecimento de pomares de frutas ou de outras unidades de produção agrícola.